
A revista Vida Simples e o Minimalismo
Contrariando minha decisão inicial, investi na compra da revista Vida Simples de fevereiro, dedicada ao Minimalismo. A revista apresentou uma boa matéria principal para apresentar o Minimalismo a alguém que nunca ouviu falar dele, mas com poucas novidades para nós que já introduzimos o conceito nas nossas vidas, embora mostre outros minimalistas com sua prática diária. O resto da revista está muito bom. Muitos conceitos ligados ao Minimalismo são explorados: a importância da excentricidade (o pensamento crítico, sem seguir modelos preestabelecidos que questiona a superficialidade das coisas); a importância de se autoquestionar e estar presente em si mesmo (mindfullness – atenção plena) para encontrar uma vida com mais sentido; a importância da nossa relação com a nossa alimentação; a humildade para enxergar com lucidez aquilo que somos, sem arrogância e comparações. Este texto revê as matérias da revista, seguindo a ordem da publicação e ressaltando os pontos principais pela minha ótica.
A excentricidade
A 5ª idéia para o Novo Milênio (da série de 6) é a Excentricidade. Como grande exemplo Diógenes de Sinope, o Cínico (400-325). Um ícone Minimalista que morava em um tonel e andava pelas ruas em plena luz do dia com um lampião procurando “um único homem honesto”. Ao ser visitado por Alexandre, o Grande enquanto tomava sol na calçada recebe a seguinte proposta: “Faça-me qualquer pedido e eu atenderei” ao qual ele responde: “então saia da frente do meu sol!”. O resultado? O grande Alexandre fica tão impressionado que tempos depois diz “Se eu não fosse Alexandre, gostaria de ser Diógenes”.
Diógenes praticava a excentricidade (e o minimalismo) não somente como uma rejeição às convenções, mas como uma afirmação da individualidade humana, como uma exploração lúdica das fronteiras ambíguas que nos separam do resto da humanidade, mas que também nos unem.
Os hábitos e tradições são resultados da experiência das gerações passadas, com o tempo, no entanto a lógica da experiência é esquecida, e os hábitos tornam-se vazios, sem sentido. A adoção automática das convenções sociais embota as faculdades que nos tornam indivíduos; por outro lado, a rejeição a todas as tradições pode, também, tornar-se irrefletida, obtusa – convencional.
Uma excentricidade saudável inclui a adoção inteligente e seletiva de costumes e ideias de um tempo ou lugar – seu significado é então, renovado pela prática consciente: Mindfullness ou atenção plena.
A Atenção Plena e uma vida com mais sentido
Na entrevista com Ana Tomaz encontramos a busca por respostas para encontrar o sentido da vida. Ela acredita que a dificuldade de encontrar esta resposta é que nós estamos ausentes de nós mesmos. Quando questionada sobre ser otimista quanto aos caminhos da humanidade, ela responde: “Me chamam muito de otimista, mas é que eu sou realista. E a realidade não é ideal. Ela é perfeita. Se eu estou numa situação desagradável é porque ela me é necessária. […] Não precisava, mas aconteceu. Não precisava ocorrer no meu ideal. Mas no real, precisava. E é preciso olhar para isso. Porque não tem nada que eu viva que não seja, da minha perspectiva, a apresentação de mim mesma. O problema é que a gente fica se iludindo com outras coisas e, dessa maneira compensando a vida. E daí não se dá conta de que a vida está estagnada. Ou seja, existe uma falta na vida, mas eu não a reconheço. Fico consumindo, me distraindo.”
Para ela, que foi bailarina, a resposta para encontrar nossas verdades é uma sensação física. O seu corpo indica que está fazendo o que é certo para você. Seguindo o caminho da intuição, do instinto, da conexão, da afinidade, da autopercepção, do autoconhecimento. Autoconhecimento que nos leva à uma melhor interação com o nosso meio.
A relação consigo, com o outro e com a vida ao redor.
Um lindo ensaio fotográfico pelas lentes da fotógrafa Maya Brasiliano mostra a Terra do Fogo, na Argentina: uma linda paisagem nevada, quase intocada. Ela vê na região quase intacta, ainda que habitada por humanos um grande respeito e um sentimento de pertencimento e interligação. E questiona se não podemos ter isso nos grandes centros.
O mesmo sentimento é expresso pela reportagem de Rafael Tonon, “Da Fazenda para a Cidade” onde os 80% da população brasileira que vivem nas cidades (segundo o IBGE) distanciam-se cada vez mais da sua alimentação. A reversão dessa situação é proposta por vários chefs e startups que propõem não só a criação de hortas urbanas e o cultivo de mini-hortas residenciais mas a reflexão sobre os riscos internacionais da produção de alimentos em larga escala em nome da conveniência. “A comida não precisa ser paga, pode ser plantada. E plantá-la é a coisa mais transformadora que você pode fazer pela sua alimentação”. Já que nem todos nós temos “dedos verdes”, eu humildemente sugiro que você ao menos exercite a atenção plena quando estiver escolhendo, comprando, preparando e comendo seu alimento.
A humildade e o valor daquilo que somos
A humildade, tema da reportagem final, é colocada como o caminho, a virtude que nos ajuda a enxergar com lucidez aquilo que somos, sem arrogância ou comparações, mas com aceitação.
Novamente surge o autoconhecimento e a justa interação com o próximo e o meio. A chave é buscar o equilíbrio e, segundo Muhammad Ragip “Todos temos qualidades e pontos fracos, mas não podemos nos fechar e perder a consciência do Universo”.
E por final, seguindo a linha Minimalista, o filósofo francês Michel de Montaige nos diz: “É uma perfeição absoluta, e como que divina, saber desfrutar honestamente de seu próprio ser”.

Capa da revista Vida Simples Fevereiro/2016
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